O pão-por-Deus é um peditório ritual feito por crianças, embora antigamente participassem também os pobres, associado às práticas relacionadas com as refeições cerimoniais do culto dos mortos. Fonte: Wikipédia
Ainda tenho tão presente na memória, como se de hoje se tratasse, da última vez que fui com os meus amigos de infância, bater a cada porta das redondezas de onde morávamos. Era um sábado de manhã e tínhamos tudo combinado de véspera.
Havia uma disputa saudável entre o meu grupo e os outros que conhecíamos, para ver quem conseguia mais comida/dinheiro. Batíamos à porta, muitas vezes envergonhados, porque não sabíamos quem ia estar do outro lado. Às vezes um ou dois de nós ficavam escondidos nas escadas do prédio, à espera de ouvir a campainha a tocar. A campainha tocava. A porta abria. E numa só voz dizíamos: pão por Deus. Quase sempre eram pessoas simpáticas que estavam do outro lado, habituadas ao ritual anual pelos dias 31 de Outubro e 1 de Novembro.
- O que querem? - Perguntavam.
- O que poder dar.
Doces ou dinheiro era o que mais recebíamos, mas também chegámos a ser brindados com pão. Na verdade era esse que devíamos receber sempre, era o pão que estávamos a pedir. Abríamos o saco e lá recebíamos mais um doce. Sorriamos. Mostrávamos aos que estavam escondidos nas escadas e seguíamos para mais uma casa. Repetíamos este ritual durante toda a manhã, para no final dividirmos entre todos, de forma igual, aquilo que tínhamos colhido. Para os adultos podia ser pouco, mas para nós crianças, significava muito, era muito! A quem nada nos dava sorríamos na mesma, sabíamos que nem sempre há doces em casa e muitas pessoas não gostavam de dar dinheiro. Hoje compreendo isso, também não gosto de dar dinheiro, prefiro dar comida.
Ontem vi na rua um grupo de quatro crianças a tocar a cada campainha dos prédios, para ver em qual é que tinham a sorte de lhes abrir a porta e lembrei-me de tudo! De tudo aquilo que tinha feito há uns anos atrás. Devem ter passado uns 13 ou 14 anos, quanto tempo! Fiquei feliz ao perceber que ainda cumprem a tradição do "pão por Deus" passados tantos anos! Faz parte da infância. Não estão à frente do computador, da televisão, do tablet. Estão na rua, a conviver com os amigos, como era antes. Estão a colher os frutos daquilo que estão a semear.
Um pouco da história para os mais curiosos:
Em Portugal, no dia de Todos-os-Santos as crianças saem à rua e juntam-se em pequenos bandos para pedir o pão-por-deus de porta em porta. As crianças quando pedem o pão-por-deus recitam versos e recebem como oferenda: pão, broas, bolos, romãs e frutos secos, nozes, amêndoas ou castanhas, que colocam dentro dos seus sacos de pano. É também costume em algumas regiões os padrinhos oferecerem um bolo, o Santoro. Em algumas povoações chama-se a este dia o ‘Dia dos Bolinhos’ ou 'Dia do Bolinho'.
Em 1756, também se cumpriu, 1 ano após o terremoto que destruiu Lisboa em 1º de Novembro de 1755 em que morreram milhares de pessoas e a população da cidade - na sua maioria pobre - ainda mais pobre ficou.
Como a data do terramoto coincidiu com uma data com significado religioso (1 de Novembro), de forma espontânea, no dia em que se cumpria o primeiro aniversário do terramoto, a população aproveitou a tradição para desencadear, por toda a cidade, um peditório, com a intenção de manter uma tradição que lembrava os seus mortos. Fonte: Wikipédia
Sacos de pano para o peditório Fonte: Blog Ainda sou do tempo |
Também pediram pão por Deus na vossa infância? Lembram-se desses dias? :)
Era uma tradição bem gira, e acabava também por alegrar os idosos que recebiam a visita das crianças,
ResponderEliminarInfelizmente parece que nos dias de hoje maior parte das crianças optaram mais pela vertente do halloween, e preferem antes a tradição americana da doçura ou travessura.