terça-feira, 4 de novembro de 2014

Morrer à hora marcada

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Acredito vivamente que ao nascer já estamos com o dia e hora de morte traçados, como se já viesse escrito no nosso código genético. Muitos não acreditam no que digo, dizem que somos nós que com as nossas escolhas feitas ao longo do tempo, vamos traçando com os nossos hábitos alimentares e estilo de vida, a duração do nosso corpo e da nossa alma. Se estiver destinada a morrer amanhã e se eu o soubesse, não era por ficar o dia inteiro fechada em casa, a tentar evitar que a morte me levasse, que ia escapar. Se não morresse na rua, de certeza que ia morrer em casa e as nossas casas têm tantos perigos que nem imaginamos! Quando alguém morre num acidente que consideramos “parvo” , dizemos logo que estava destinado a morrer ali, ou quando alguém escapa a um desastre automóvel, por exemplo, quando tudo ditava para a sua morte, se salva de forma extraordinária, o que dizemos? Que não estava ali o seu destino.

Agora pergunto: podemos nós contrariar a data da nossa morte, escolhendo o dia para deixar de respirar? Ou será que quando o vamos fazer, acreditando que já estamos a antecipar, afinal era mesmo isso que precisava de ser feito? Fomos nós apenas o veículo, para aquilo que já estava definido como o final? Quem somos nós para decidir morrer, quando foram os nossos pais que nos deram a vida e decidiram que devíamos viver? O suicídio, é o quê? Acto voluntário de morrer. E quem morre é uma pessoa fraca, porque desiste de tudo, o caminho mais fácil e deixa de querer lutar, de viver, de tentar mudar o que está mal. Os problemas permanecem para quem fica, não para quem vai. É fraco, mas pode ser forte. Pode ser considerado um corajoso, porque admitiu a sua fraqueza, que não conseguia mais, deixou de lutar. Há uma linha muito ténue no suicídio, mas quero acreditar que a coragem e a força de lutar e mudar, deve ser aquela que deve vencer sempre, aquela que mais peso deve ter. É importante lutar e viver, mostrar aos outros que estamos aqui, hoje na fraqueza, porque faz parte para crescer e ter a capacidade de reconhecer que errámos, mas amanhã estamos de cabeça levantada, sorriso nos lábios e com os braços prontos para mais uma batalha.

 A doença terminal leva-nos a memória muitas das vezes, vai levar-nos a alegria, a força, a saúde, traz o sofrimento e a dor. Todos sabemos que vamos morrer, mas o doente terminal sabe que o vai mais cedo do que o previsto, do que é normal por natureza, por velhice. O doente terminal sabe que morrerá em pouco tempo, em meses ou em dias. Brittany Maynard de 29 anos que sofria de um cancro incurável no cérebro, sabia que ia morrer em breve e a doença levava-lhe aquilo que de mais precioso tinha: as lembranças de quem era. Decidiu morrer enquanto sabia quem era, enquanto conhecia o seu “eu”. Escolheu o dia 1 de Novembro do presente ano, através da morte assistida, junto daqueles que mais amava: a sua família. Fez nos últimos meses tudo aquilo que tinha sonhado e despediu-se de todos no seu quarto, que partilhara com o marido, na sua cama. Escolheu morrer, suicidou-se de forma assistida. Para os mais crentes, Brittany cometeu um pecado, pois contrariou a sua morte natural e só Deus teria o direito de a tirar, dizem eles. Ela antecipou a sua morte, escolheu dar à sua vida um fim com dignidade, pois não queria assistir à sua perda diária. Estava no seu direito, só ela saberia como se sentia: a morrer, pois a doença já lhe levara tudo.

Brittany Maynard Fonte: The west side story
 
Este será sempre um assunto controverso, que divide a opinião pública. Temo que nunca será legalizado em Portugal. Na minha opinião, temos direito a escolher morrer quando se trata de uma doença terminal que nos levou a qualidade de vida.


Eutanásia humana: sim ou não?

7 comentários:

  1. Diria mesmo que Portugal seria um dos primeiros países europeus a legalizar a morte assistida, geralmente nós como país apesar de não sermos um povo dado a falar sobre assuntos tabus no momento das decisões somos um povo bastante liberal, vejamos por exemplo o caso do aborto ou da descriminalização do consumo de drogas. A única questão é que acho em termos de união europeia não seria aprovado.

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  2. concordo contigo quase em tudo!!, acredito que independentemente do nosso estilo de vida, se morremos por morte natural, causada ou suicída mal nascemos a data da nossa morte também está"escrita"..só não aceito muito bem o facto de existir tanta criança, adulto ou mesmo idoso a sofrer, de mal igual ou pior e decidir lutar e ter fé por si e para si...meu pai faleceu com um tumor cerebral há 20 anos e lutou contra a doença até ao último momento,,,ficou cego e não desistiu,, morreu a dormir deitado na sua cama em casa mas não desistiu e eu acho que isso conta muito,,mas entendo a decisão e foi livre de fazer como achou melhor para ela, embora eu ache que optou pela maneira mais fácil para ela..
    gostei do teu blog, queres seguir o meu,?? ficava muito contente por partilhares tua opinião nos meus posts!!
    beijinhos:)
    http://belezademulheremae.blogspot.pt

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    1. Resistente, é aquele que luta até ao fim contra todas as adversidades e o teu pai foi um deles ;) Concordo que foi a maneira mais fácil para ela, ao querer morrer antes que a doença a levasse. Mas só ela saberá como se sentia em cada vez que se esquecia de quem era, no fundo penso que foi isso que a levou a colocar um fim à sua vida. Compreendo quem queria escolher a eutanásia, mas para mim só faz sentido em casos extremos, doenças terminais que comprometam por completo a qualidade de vida.

      Obrigada pela partilha de opinião, gostei muito. Claro que vou seguir o teu blogue e comentar :)

      Beijinhos

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  3. Tenho uma dificuldade extrema em pensar objetivamente nesta questão, até porque acho que ela não tem nada de objetivo. Mexe com algho que para mim é inalienável, a vida e como tal, antes de discutir e tomar posição sobre a eutanásia, considero qe nos devemos perguntar, o que é isto da VIDA!

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    1. Excelente pergunta para nos fazer pensar!

      Obrigada pelo comentário :)

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Comentários ao luar