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Crédito: Gazeta do Rossio
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Morreu.
Numa cama do hospital de S.
José, de Lisboa, o jovem Duarte, de 29 anos, que tinha família, namorada e
amigos. Sentiu-se mal numa tarde de sexta-feira, 11 de Dezembro, uma
veia tinha rebentado. Tinha sangue na sua cabeça, que cada vez mais
se incumbia de espalhar, foi o aneurisma que tomou conta dele. Foi
uma sexta-feira, que o deixou à espera para poder ser operado e era
urgente! Urgente! Ia salvar-lhe a vida. Mas não salvou, porque vinha
o fim-de-semana e não havia uma equipa médica especializada para o
operar. Não queriam trabalhar ao fim-de-semana pelo valor que o estado lhes tinham oferecido. Tinha que esperar por segunda-feira. E o jovem esperou e
piorou. A madrugada de segunda-feira, do dia 14, levou a melhor e já
não o operaram como prometido, porque estava em morte cerebral.
Custa-me a acreditar que isto aconteceu, mas
é a verdade! Foi mesmo verdade... É o sistema nacional de saúde, a
matar por dinheiro! Como fica aquela família? O David Duarte morreu
sem que tentassem sequer, salvá-lo... Este caso e outros entretanto descobertos, vieram a público,
a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo
demitiu-se, esta terça-feira, dia 22 de Dezembro. Houveram mais mortes negligenciadas.
Um corpo que morre, já não volta a nascer, e a alma
que parte, já não volta a sentir. Nunca mais.
Fica a carta emocionada, escrita pela
namorada, Elodie Almeida:
Na sexta-feira, dia 11 de dezembro, em pânico, liguei para o 112 por
volta das 14h30. O David ficou paralisado do lado direito, sem conseguir
formular frases. Tentava falar mas era incapaz, apenas conseguia gritar
e chorar. A ambulância chegou, o David estava consciente e ciente
daquilo que lhe pediam e perguntavam, porém, continuava sem conseguir
expressar-se. Ajudaram-no a vestir-se e a calçar-se, colocando-o de
seguida numa cadeira de rodas, visto que não tinha força na perna
direita.
Fui com eles na ambulância. O David chegou ao Hospital
de Santarém e foi logo colocado em observação. Fizeram-lhe exames,
enquanto aguardei.
Após 30 a 45 minutos de espera, deixaram-me
vê-lo. O David dormia mas por vezes abria os olhos. Estava muito
agitado. O médico acordou-o e pediu-lhe para levantar os braços e ele
conseguiu levantar apenas o braço esquerdo. Pediu-lhe para levantar as
pernas e ele conseguiu levantar a esquerda e, muito lentamente, levantou
a direita. Estava consciente.
Pouco tempo depois, fui chamada,
eu e a avó materna do David, que se encontrava no hospital por outros
motivos. Anunciaram-nos, numa sala à parte, que o David tinha tido uma
hemorragia cerebral e um grande hematoma e teria de ser transferido de
urgência para o Hospital de São José, em Lisboa. Apenas tive tempo de
lhe dar um beijo. Ele abriu os olhos e eu disse-lhe: “Eles vão cuidar de
ti.” Foi de imediato transferido pelo INEM, penso que seriam cerca de
18h.
Esperei umas horas pelo meu pai, que veio de Coimbra
buscar-me para seguirmos para o Hospital de São José. Chegámos por volta
das 22h, penso eu. Pedimos informações, procurámos o edifício que nos
referiram, porém estava fechado.
Apareceu uma enfermeira, que
gentilmente nos fez entrar e aguardar pela médica. Esperámos cerca de
uma hora. No final, foram dois médicos que se reuniram connosco numa
sala. Estávamos presente eu, o meu pai, Fernando, e a Sra. Zélia, mãe do
David, que fomos buscar a Vila Chã de Ourique no caminho para o
Hospital de São José.
Ali anunciaram-nos, descontraidamente, que
se tratava da rutura de um aneurisma, que o sangue se espalhou pelo
cérebro e que, geralmente, estes casos de urgência teriam de ser
tratados de imediato, ou seja, o doente teria de ser logo operado. Mas
como os médicos referiram, infelizmente calhou ser numa sexta-feira,
logo não iria haver equipa de neurocirurgiões durante o fim de semana. O
David teria de aguardar até segunda para ser operado. Deram-me a
entender que o sangue espalhado pelo cérebro poderia, muito
provavelmente, causar sequelas e posteriormente múltiplos AVC.
No
sábado, dia 12, visto que a família mais próxima do David decidiu
visitá-lo, estando eu em Coimbra, decidi ficar, ligando constantemente
para o hospital para pedir informações (raramente era atendida ou pediam
para ligar mais tarde). Pedi ao Sr. José, tio do David, para pedir
informações junto às enfermeiras ou aos médicos, pois queria saber se
existia a hipótese de o David ser transferido para outro hospital, de
forma a ser operado o mais rapidamente possível. Pelo que entendi, a
melhor opção era sem dúvida o Hospital São José e não seria apropriado
transferi-lo.
Nesse mesmo dia, a mãe do David referiu que ele
abria os olhos, levantava os ombros e sentia frio nas pernas, tendo tido
a iniciativa de se tapar com o lençol, apesar de as enfermeiras terem
informado que não estaria consciente, que não iria reconhecer-nos e que
estava demasiado confuso e perturbado. Visitei o David no domingo, dia
13, e ele estava em coma induzido.
Disseram-me que o caso se
tinha agravado, que ele vomitou durante a noite, que começou a fazer
demasiado esforço para respirar e que o coma induzido seria uma forma de
ele não permanecer agitado e de o ajudar a respirar, de modo também a
prepará-lo para a cirurgia de segunda-feira de manhã.
Anunciaram-me
que a sorte dele era ser novo, mas que o grande problema era o sangue
espalhado pelo cérebro, que poderia provocar sequelas e outras
complicações. Porém, algo bom aconteceu. Segundo o médico, criou-se um
coágulo de sangue que permitiu “fechar” a veia, mantendo o sangue a
circular dentro da mesma e permitindo que ele ficasse calmo e que a veia
não voltasse a rebentar. A operação consistia na remoção do hematoma e
desse coágulo, selando a veia através de um “clipe” e eliminado
definitivamente o aneurisma.
Por outro lado, o meu pai falou com
outra médica, que confirmou que a operação seria no dia seguinte de
manhã e que seria melhor aguardarmos 48 horas antes de visitar o
paciente, para não ficar perturbado.
No dia seguinte,
segunda-feira dia 14, liguei várias vezes, querendo saber como tinha
corrido a operação. No momento em que atenderam, por volta das 14h30,
disseram-me simplesmente que não tinha sido realizada e que seria melhor
deslocar-me ao Hospital São José, sem acrescentarem mais informações.
Eu própria tive de informar a mãe do David, visto que ninguém do
hospital nos telefonou.
Mais uma vez, fomos de Coimbra até Vila
Chã de Ourique buscar a mãe do David. Chegámos ao Hospital de São José e
aí anunciaram-mos que o David tinha tido morte cerebral e que seria
irreversível. Não me deram mais detalhes. Completaram esta grave
notícia, anunciando que no mesmo dia ou no dia seguinte ele seria
operado para a doação de alguns dos seus órgãos.